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27 agosto 2008

Meu Serviço Militar - Parte 2

A minha recruta


O serviço militar iria transformar a minha vida. Nada mais iria ser igual. A tristeza e a frustração reinava no meu coração quando cheguei a Mafra. Não pelo serviço militar em si, mas sim por aquilo que tive de deixar. .



Os primeiros dias em Mafra foram muito difíceis. Comecei por ter que aprender a viver em grupo... dormir em grupo, comer em grupo, ganhar rotinas que até ali não tinha. O facto de não conhecer ninguém também complicou tudo. Era muito estranho  ver-me ali no meio de um grupo de colegas, com os quais não tinha qualquer tipo de afinidade. Fazer a cama, engraxar as botas, enfim toda uma série de coisas que nunca na minha vida tinha feito. Logo pela manhã, ao toque de alvorada, tinha que me levantar, ir tomar o pequeno almoço e perfilar na parada para a revista. Depois era a instrução: correr, saltar, dar tiros enfim... não tinha tempo para pensar em nada. A juntar a isto havia os dias em que estávamos de fascina... era preciso lavar a loiça e limpar o refeitório. 
Havia um desgaste psicológico provocado pela instrução e pelos dias fechado no quartel. Só saíamos ao fim de semana para ir a casa. À noite estava demasiado cansado e só queria dormir.

Enquanto estive em Mafra nunca consegui ganhar gosto pela vida militar, não estava preparado psicologicamente para aguentar a pressão que nos era imposta. No entanto, terminei a primeira parte da recruta com boas notas e com uma preparação física muito boa. 

A especialização foi mais difícil. Especializei-me em "Reconhecimento". Diziam-me que em caso de guerra era o primeiro a ir  para a frente de combate... fazer o reconhecimento do terreno. Confortavam-me dizendo que era melhor que ser atirador. 
Para concluir o curso tive que ultrapassar certas provas... ainda hoje penso como consegui fazê-las... Recordo perfeitamente a prova do "vale escuro". Colocados numa ribeira, inicialmente seca... à medida que íamos avançando cada vez havia mais água. Ia mais dois colegas, também eles muito atrapalhados... só ouvíamos tiros, indivíduos a darem-nos muros enfim... nunca mais chegava ao fim... Perto do final alguém nos separou ... só no final da prova voltei a ver os meus colegas. Estava completamente encharcado mas mais uma vez aguentei. 
Lá consegui acabar o curso .

Acabado o curso jurei bandeira e fui para Beja. Não era bem para onde queria ir... mas ainda bem que assim foi. Aqui sim, o meu gosto pelo serviço militar mudou por completo. 

Beja vai alterar o meu pensamento acerca do serviço militar e o Alentejo vai ficar para sempre no meu coração. 

Ainda hoje tenho imensas saudades do Alentejo e dos momentos que por lá passei.
Escrito em 23/03/2007

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