Des)motivação do pessoal docente
Adriana Campos
Adriana Campos Licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do Desenvolvimento, na UCAE. Actualmente, é psicóloga na escola E B 2/3 de Leça da Palmeira, para além de dinamizar acções de formação em diversas áreas.
2008-09-03
É com pesar que vou constatando a fuga de bons professores para a reforma, com muito ainda para dar...
Se, no final do ano lectivo anterior, tivesse sido feito um estudo com o objectivo de avaliar o nível de motivação da classe docente, os resultados seriam assustadores. Mesmo sem fazer nenhum estudo, pelo facto de trabalhar em contexto escolar, há já vários anos, tenho a noção clara de que, do lado da desmotivação, se encontraria a maior parte dos professores. O mais preocupante é que entre os desmotivados, não se encontram apenas os que menos têm dado à escola, mas também e sobretudo excelentes profissionais, que sempre procuraram desempenhar com brio a sua actividade profissional. É com pesar que vou constatando a fuga de bons professores para a reforma, com muito ainda para dar. Os bons profissionais com quem trabalho, que felizmente são muitos, queixam-se essencialmente da burocratização do ensino, que lhe retira tempo para estar com os alunos, do sistema de avaliação que está a ser implementado, da falta de valorização e apoio ao seu trabalho e do excesso de tarefas a desempenhar.
Sendo a motivação o motor principal da evolução das organizações, confesso que há motivos sérios para todos nós nos preocuparmos, uma vez que sem motivação é difícil obter bons resultados, seja em que actividade for. Professores desmotivados terão mais dificuldade em oferecer estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem mais eficaz.
Tenho de admitir que a escola precisava de um abanão e que havia injustiças que era necessário resolver urgentemente, uma delas, à vista de todos, era o facto de todos os docentes receberem "na mesma moeda", independentemente do seu desempenho profissional. A diferenciação é importante e indispensável para a melhoria do desempenho. O grande problema é que o modelo de avaliação actualmente desenhado deixa muito a desejar e a margem para a injustiça é grande...
Admito ainda que grandes mudanças geram sempre grandes controvérsias, independentemente do alvo de mudança. A mudança e a crise andam sempre associadas, mas confesso que em todo este processo parecem faltar peças que ajudem os visados a reorganizarem-se. Anda tudo atarantado à espera de mais e mais medidas, que todos antecipam como penalizadoras... Não é possível que, vivendo os professores nesta ansiedade, os alunos não sejam atingidos, por muito bons profissionais que os primeiros sejam.
Confesso que ainda não tinha abordado este tema porque gostaria de trazer algo de novo para a discussão. No entanto, à falta de novidades, e porque um novo ano vai começar, pareceu-me importante sublinhar que HÁ EXCELENTES PROFISSIONAIS NAS ESCOLAS, cujo desempenho é indispensável valorizar. Mais ainda, é fundamental os responsáveis pela Educação estudarem a fundo os factores que influenciam a motivação, de forma a ficarem na posse da chave que poderá abrir, sem falsos resultados, o caminho para o sucesso da organização escolar.
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J. Vieira Lourenço
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