BLOGUE A VIDA DE SALTOS ALTOS
Poderá o desespero justificar que uma mãe mate um filho?
Brasil: mãe atira recém-nascido de muro de dois metros; Londres: mãe mata filha de quatro anos em ritual muçulmano; Sintra: mãe afoga bebé na Ribeira da Lage. Haverá justificação para isto?
Paula Cosme Pinto (sapato nº38) (www.expresso.pt)
11:24 Quarta feira, 29 de Dezembro de 2010
Todos os meses casos de mães que matam os filhos chegam às páginas do jornais
Vadim Ghirda/AP
Não tive uma educação religiosa - aliás, os meus pais, pode-se dizer, são no mínimo pouco católicos -, mas houve uma frase que sempre ouvi e assimilei: quem nunca pecou que atire a primeira pedra. É certo que o medo e o desespero podem levar-nos a fazer coisas totalmente irracionais. Mas poderão estas duas palavras eternamente justificar atos hediondos como o homicídio de uma criança?
Fui uma das muitas pessoas que ontem (ainda) ficaram de boca aberta ao ler a história do bebé recém-nascido atirado de um muro de dois metros de altura . Sobreviveu. Mas que lesões físicas sofrerá para o resto da vida, ainda não se sabe. Se tivesse sido simplesmente pousado à porta de uma qualquer casa, esta questão nem se punha.
Infelizmente, as notícias de crianças assassinadas pelas próprias mães são cada vez mais comuns e já não nos surpreendem. Contudo, ontem não pude deixar de parar para pensar. Numa breve pesquisa de notícias, apenas das últimas semanas (!), encontrei casos semelhantes um pouco por todo o mundo: "Coreia: mãe mata filho para continuar a jogar online"; "Sintra: mãe afoga bebé de dois anos na Ribeira da Lage"; "Colômbia: mãe mata filho 'bagunceiro' à panelada"; "Londres: mãe mata filha de quatro anos em ritual muçulmano". Estes títulos incomodaram-me e fui em busca de respostas.
Homicídio altruísta?
Dizem os psicólogos que em situações de desespero existem os chamados "homicídios altruístas", em que a mãe mata o próprio filho para evitar que este venha a sentir o mesmo sofrimento que ela tem no momento. Há também quem defenda que na fase pós-parto o infanticídio acontece muitas vezes porque a mulher não tem capacidade de avaliar os próprios atos. Depois, há as perturbações emocionais, os fanatismos religiosos, o desespero, o medo... Mas onde fica o tal amor de mãe no meio disto tudo?
Numa tentativa de mistura equilibrada entre racionalidade e romantismo, vejo a maternidade como o meu sonho supremo. Talvez por isso, e moralismos à parte, eu não consiga nunca aceitar o sofrimento deliberado de uma criança (e nem me vou alongar a tocar no tema "pedofilia" porque este texto acabaria com umas 20 páginas de veneno à la Cosme Pinto cuspido em letras garrafais). Mesmo não gostando de atirar a dita primeira pedra, há atos que, desculpem-me a frieza, não se justificam.
Dizem que o amor de mãe é incondicional e eu acredito que sim. Em tudo na vida, cada caso é um caso. Mas será que estas mulheres, que mataram os filhos com as próprias mãos, algum dia o sentiram? Alguém que me responda.
in jornal " Expresso"
Poderá o desespero justificar que uma mãe mate um filho?
Brasil: mãe atira recém-nascido de muro de dois metros; Londres: mãe mata filha de quatro anos em ritual muçulmano; Sintra: mãe afoga bebé na Ribeira da Lage. Haverá justificação para isto?
Paula Cosme Pinto (sapato nº38) (www.expresso.pt)
11:24 Quarta feira, 29 de Dezembro de 2010
Todos os meses casos de mães que matam os filhos chegam às páginas do jornais
Vadim Ghirda/AP
Não tive uma educação religiosa - aliás, os meus pais, pode-se dizer, são no mínimo pouco católicos -, mas houve uma frase que sempre ouvi e assimilei: quem nunca pecou que atire a primeira pedra. É certo que o medo e o desespero podem levar-nos a fazer coisas totalmente irracionais. Mas poderão estas duas palavras eternamente justificar atos hediondos como o homicídio de uma criança?
Fui uma das muitas pessoas que ontem (ainda) ficaram de boca aberta ao ler a história do bebé recém-nascido atirado de um muro de dois metros de altura . Sobreviveu. Mas que lesões físicas sofrerá para o resto da vida, ainda não se sabe. Se tivesse sido simplesmente pousado à porta de uma qualquer casa, esta questão nem se punha.
Infelizmente, as notícias de crianças assassinadas pelas próprias mães são cada vez mais comuns e já não nos surpreendem. Contudo, ontem não pude deixar de parar para pensar. Numa breve pesquisa de notícias, apenas das últimas semanas (!), encontrei casos semelhantes um pouco por todo o mundo: "Coreia: mãe mata filho para continuar a jogar online"; "Sintra: mãe afoga bebé de dois anos na Ribeira da Lage"; "Colômbia: mãe mata filho 'bagunceiro' à panelada"; "Londres: mãe mata filha de quatro anos em ritual muçulmano". Estes títulos incomodaram-me e fui em busca de respostas.
Homicídio altruísta?
Dizem os psicólogos que em situações de desespero existem os chamados "homicídios altruístas", em que a mãe mata o próprio filho para evitar que este venha a sentir o mesmo sofrimento que ela tem no momento. Há também quem defenda que na fase pós-parto o infanticídio acontece muitas vezes porque a mulher não tem capacidade de avaliar os próprios atos. Depois, há as perturbações emocionais, os fanatismos religiosos, o desespero, o medo... Mas onde fica o tal amor de mãe no meio disto tudo?
Numa tentativa de mistura equilibrada entre racionalidade e romantismo, vejo a maternidade como o meu sonho supremo. Talvez por isso, e moralismos à parte, eu não consiga nunca aceitar o sofrimento deliberado de uma criança (e nem me vou alongar a tocar no tema "pedofilia" porque este texto acabaria com umas 20 páginas de veneno à la Cosme Pinto cuspido em letras garrafais). Mesmo não gostando de atirar a dita primeira pedra, há atos que, desculpem-me a frieza, não se justificam.
Dizem que o amor de mãe é incondicional e eu acredito que sim. Em tudo na vida, cada caso é um caso. Mas será que estas mulheres, que mataram os filhos com as próprias mãos, algum dia o sentiram? Alguém que me responda.
in jornal " Expresso"
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