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22 novembro 2008

Cirurgia foi no Hospital Clínic em Barcelona
Cirurgiões conseguem fazer transplante de traqueia inédito no mundo

19.11.2008 - 18h18 Andrea Cunha Freitas
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A história, a voz e o rosto de Cláudia Castillo correram mundo após a divulgação da notícia publicada ontem no "The Lancet". Afinal, esta colombiana bonita de 30 anos e com dois filhos (um rapaz de quinze e uma menina de quatro anos e meio) é a figura central do primeiro transplante de traqueia conseguido com recurso às suas células estaminais.A cirurgia consistiu na recolha de uma traqueia de um dador que, depois de ser “limpa” e repovoada com as células de Cláudia, foi transplantada para o corpo desta doente que tinha o pulmão esquerdo danificado por uma tuberculose. A operação foi realizada em Junho por uma equipa de cirurgiões do Hospital Cliníc, em Barcelona (Espanha), uma parte importante do complexo processo de cultura de células foi desenvolvido na Universidade de Bristol, em Inglaterra, e o trabalho de engenharia de tecidos teve o contributo de uma equipa de investigadores italianos, da Universidade de Milão, que desenhou o bioreactor onde as células de Claudia se uniram ao tecido do dador. “É um órgão personalizado, híbrido”, refere o cirurgião Paolo Macchiarini, do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Clínic e que liderou a equipa internacional. Neste caso foi usado um excerto de sete centímetros de uma traqueia doada por uma mulher de 51 anos que morreu na sequência de uma hemorragia cerebral. Este tecido foi alvo de 25 ciclos de lavagem para que ficasse livre das células do dador. Enquanto isso, as células estaminais de Cláudia removidas das suas ancas, vias aéreas saudáveis e nariz foram cultivadas para mais tarde colonizar o tecido do dador. O delicado processo que permitiu pegar num órgão de um dador e reconstruí-lo com as células de Cláudia como se fosse seu tem a importante vantagem de dispensar os fármacos (imunossupressores) que habitualmente são usados após um transplante para minimizar o risco de rejeição. Dificilmente o corpo de Cláudia iria rejeitar um órgão com seu material genético. “O risco é quase zero”, precisa Macchiarini. Cláudia sofria de um bloqueio no seu pulmão esquerdo após uma tuberculose que lhe provocou danos graves na traqueia (logo após a bifurcação que divide o órgão em direcção aos pulmões). Segundo o comunicado divulgado ontem pelo Hospital Clínic a única opção terapêutica seria extrair o pulmão. Em Março, o estado de saúde de Cláudia piorou. Gestos tão simples como pegar na sua filha ao colo passaram a estar-lhe inacessíveis, conta a doente numa gravação de vídeo disponibilizada aos jornalistas. Em Junho, os especialistas fizeram a cirurgia e hoje Cláudia tem uma vida normal.Segundo Paolo Macchiarini esta operação pode servir de alternativa para doenças das vias respiratórias que actualmente não podem ser tratadas pelas cirurgias convencionais, tais como tumores primários ou malformações congénitas. Nos Estados Unidos, já tinham sido implantados em pacientes órgãos produzidos em laboratório com as suas próprias células.

in:Jornal " O Público"

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